Ser um workaholic pode ser visto como algo positivo para algumas pessoas, mas na verdade é uma condição perigosa que traz graves riscos tanto aos profissionais quanto às empresas.
Em um mercado que está em constante transformação, é comum que os indivíduos se sintam em constante necessidade de fazer mais e melhor. Mas é preciso ficar atento para combater esse instinto quando ele ultrapassa os limites!
No artigo de hoje, você vai aprender o que é um workaholic, reconhecer os principais sintomas e conferir dicas de como evitar essa condição e suas consequências. Confira!
O que é workaholic?
O termo workaholic surgiu da união das palavras em inglês work (trabalho) e alcoholic (alcoólatra), uma alusão direta às pessoas que acabam se tornando dependentes de substâncias. Ele foi utilizado pela primeira vez em 1971, no livro “Confissões de um Workaholic: Os fatos sobre o vício no trabalho” escrito pelo psicólogo americano Wayne E. Oates.
Segundo o autor, ser workaholic significa desenvolver uma compulsão ou necessidade incontrolável de trabalhar de forma contínua, sem conseguir se desligar das responsabilidades profissionais mesmo fora do expediente.
Entretanto, existem diferenças entre esse estado de compulsão e pessoas dedicadas à função, apaixonadas pela profissão ou que acabam trabalhando horas a mais do que o recomendado.
Com o passar das décadas, outros autores passaram a usar o termo workaholic, dando suas próprias características e visões para a condição. Alguns o veem como sinônimo de “vício em trabalho”, enquanto outros consideram que são cenários diferentes.
Um exemplo é a pesquisa da Aziz e Covington, feita em 2024, que define um modelo em três partes:
Workaholism: necessidade ou tendência de trabalhar intensamente, que pode ser motivada por pressões internas, externas ou incentivos financeiros.
Vício em trabalho: condição médica que deve ser abordada por um viés de comportamento compulsivo, geralmente considerada uma forma mais grave de workaholism.
Engajamento no trabalho: estado profissional saudável e gratificante, onde o indivíduo gosta e valoriza sua função, mas consegue se desligar dela.
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O que causa o workaholism?
Muitos estudos já foram feitos sobre o workaholism, com diferentes métodos para classificar e definir suas causas. Entretanto, existem alguns que se destacam, sendo citados com maior frequência. Entre eles:
Causas emocionais: os workaholics se sentem culpados e ansiosos ao não estar trabalhando.
Causas motivacionais: a compulsão se intensifica ao acreditarem que o trabalho será capaz de melhorar sua autoestima ou então ganhar status social.
Causas comportamentais: existe a sensação de reforço ao serem recompensados com resultados financeiros ou status.
Causas na infância: indivíduos criados por pais superprotetores ou extremamente exigentes.
Causas genéticas: surgem de características profundamente arraigadas, como o perfeccionismo.

Qual a diferença entre ser dedicado e workaholic?
Com a popularização do termo workaholic, se tornou comum que muitos acreditem ser um ou citam o termo para momentos de trabalho intenso. No entanto, essa condição acontece quando o profissional ultrapassa os limites, quebrando o equilíbrio necessário para a vida pessoal.
Para compreender onde começa o esgotamento mental, seus riscos e como evitar o workaholism, é necessário saber o que não se enquadra na persona do workaholic. A seguir, você descobrirá as principais diferenças entre ser ou não um workaholic.
Workaholic e trabalhar muitas horas
Uma das características mais comuns de um workaholic é o ato de trabalhar por horas a fio, o que leva ao esgotamento mental e físico, assim como outros problemas de saúde. Porém, apenas o ato de passar mais horas do que deveria no trabalho não significa que você é um workaholic.
Segundo um estudo feito na Harvard Business Review, o que realmente diferencia as duas situações é a capacidade do indivíduo em se desligar das suas atividades após o expediente.
Ou seja, se em momentos de necessidade você acaba tendo que trabalhar 50 horas ou mais em uma semana, mas nos momentos de descanso consegue se desconectar completamente do trabalho, isso significa que não é um workaholic. Em contrapartida, alguém compulsivo pelo trabalho pode ter uma jornada de apenas 30 horas semanais, mas permanecer pensando e se preocupando com as atividades mesmo fora do escritório.
Workaholic e trabalhar duro
O mesmo estudo explica que o ato de “trabalhar duro” também é diferente de ser um workaholic. Conseguir manter o foco nas obrigações, sendo proativo e dedicado, são pontos positivos e que, quando em equilíbrio, sinalizam uma relação saudável com sua função.
Porém, quando a mente se torna incapaz de deixar de pensar, planejar e considerar as atividades profissionais mesmo fora do expediente, então isso é um sinal de perigo que sinaliza que pode ser ou estar se tornando um workaholic. O foco exagerado e em momentos indevidos demonstra a quebra nos limites profissionais.
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Workaholic e ter alto engajamento no trabalho
Outro elemento bastante confundido com o workaholism é o alto engajamento no trabalho, gerado pelo amor que o profissional sente por sua função. Um estudo feito pela Afota, Robert e Vandenberghe, em 2025, indica que a diferença entre os dois casos está no investimento feito e o impacto dele na saúde mental e física.
No caso do alto engajamento no trabalho, existe uma exaustão emocional menor, com probabilidade mais baixa de desenvolver problemas de saúde mental como a síndrome de burnout e depressão. Já o workaholic sente um esgotamento intenso, tendo um alto risco de desenvolver essas condições.
Inclusive, uma pesquisa liderada por um grupo de engenheiros identificou que profissionais workaholics costumam ter quadros mais graves de depressão. Lembrando que isso não significa necessariamente que todos os viciados em trabalho vão desenvolver a doença, mas sim que um maior número deles apresenta esses sintomas.
Workaholic e ter uma forte ética de trabalho
Por fim, e é tão importante quanto, existe a ética de trabalho. Profissionais que a sentem com maior intensidade costumam apresentar vários valores. Por exemplo: dedicação, pontualidade, profissionalismo, proatividade, aprendizado contínuo, foco e produtividade.
São aspectos bastante positivos e que são necessários para a carreira profissional. Além disso, são características que não fazem de você um workaholic, desde que mantenha um bom equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Quais os principais sintomas do esgotamento mental?
Os sintomas do workaholism são bastante diversos e podem ser divididos em quatro categorias principais: físicos, emocionais, comportamentais e cognitivos. Lembrando que, na maioria dos casos, eles se apresentam em conjunto, o que pode levar a complicações ainda maiores para a saúde do profissional.
Sintomas físicos do workaholic
Fadiga constante que não melhora mesmo com descanso regular
Dores de cabeça frequentes e enxaquecas
Problemas digestivos, como náusea, perda de apetite
Tensão muscular generalizada
Problemas de sono, como dificuldade para adormecer ou se manter adormecido
Mudanças de peso inexplicáveis
Ganho de peso devido a hábitos alimentares inadequados e falta de exercício
Sistema imunológico enfraquecido o deixando mais suscetíveis a doenças
Diabetes mellitus
Pressão arterial elevada
Problemas cardíacos
Dores no corpo, como nas articulações, músculos e dores inexplicáveis
Lesões e acidentes mais frequentes no trabalho
Sintomas emocionais do workaholic
Exaustão emocional severa
Ansiedade generalizada e sentimentos de inquietação
Irritabilidade constante e impaciência com colegas e familiares
Sentimentos de desesperança e impotência
Estresse crônico e tensão emocional constante
Sensação de urgência constante e pressa desnecessária
Paranóia sobre performance no trabalho
Ansiedade quando não está trabalhando ou se sente improdutivo
Sintomas depressivos e tristeza persistente
Sensação de vazio quando não está trabalhando
Sentimentos de culpa quando não está trabalhando
Mudanças bruscas de humor
Perda de interesse em atividades antes prazerosas
Sentimentos de isolamento social
Necessidade compulsiva de validação através do trabalho
Desconexão emocional da família e amigos
Medo irracional de falhar ou não atingir padrões elevados
Baixa autoestima e autodúvida
Saiba mais: Dicas para cuidar da saúde emocional no trabalho
Sintomas comportamentais do workaholic
Trabalhar horas excessivas incluindo fins de semana e feriados
Negligência do autocuidado básico (alimentação, higiene, exercício)
Sacrifício do sono para continuar trabalhando
Dificuldade extrema para se desconectar mentalmente do trabalho
Usar o trabalho como fuga de problemas pessoais ou emoções difíceis
Verificação compulsiva de emails e mensagens relacionadas ao trabalho
Trabalhar mesmo quando doente ou em licença médica
Levar trabalho para casa consistentemente
Evitar pausas durante o dia de trabalho
Relutância em tirar férias ou dias de folga
Perda de memória de conversas devido à exaustão
Perfeccionismo extremo e padrões irrealisticamente altos
Necessidade obsessiva de controle sobre projetos e tarefas
Dificuldade em delegar tarefas ou confiar em outros
Revisão excessiva do trabalho realizado
Pular refeições ou comer de forma inadequada
Evitar atividades sociais e compromissos familiares
Adiar necessidades físicas como ir ao banheiro
Procrastinação em tarefas não relacionadas ao trabalho
Uso de substâncias (álcool, comida, cafeína) para lidar com o estresse
Dificuldade para relaxar ou aproveitar atividades não relacionadas ao trabalho
Sintomas cognitivos do workaholic
Problemas de memória, especialmente em tarefas complexas
Dificuldade para mudar de foco
Capacidade de concentração diminuída fora do contexto de trabalho
Declínio no raciocínio e capacidade de resolução de problemas
Dificuldade de planejamento e organização em áreas não profissionais
Redução do vocabulário e habilidades verbais devido ao estresse crônico
Pensamentos obsessivos sobre o trabalho mesmo durante o tempo livre
Dificuldade para parar de trabalhar

Se você se identifica com os sintomas citados neste artigo, fique atento e, se necessário, procure ajuda profissional.
Como saber se sou um workaholic?
Sendo uma condição que vem preocupando profissionais de saúde mental e empresários, hoje existem testes feitos para identificar se você é um workaholic. Um dos mais utilizados é a Escala Bergen de Vício no Trabalho, ou Bergen Work Addiction Scale (BWAS).
A avaliação possui sete critérios (saliência, tolerância, modificação de humor, recaída, abstinência, conflito e problemas), aos quais deve responder com um número que vai de 1 (nunca) a 5 (sempre).
Outro teste utilizado é o Work Addiction Risk Test (WART), que usa 25 questões que abordam tendências compulsivas, controle, autoabsorção, incapacidade de delegar e autoestima.
Além deles, o melhor método para descobrir se é um workaholic é a autoavaliação e o autoconhecimento. Analisar os próprios comportamentos, fazendo perguntas sobre como tem se sentido e agido, ajuda a identificar possíveis sintomas.
Caso você note ter comportamentos de um workaholic, é importante buscar ajuda profissional. Mesmo que esteja no começo do processo, à medida que ele se intensifica, maiores são os prejuízos para a saúde e bem-estar do indivíduo.
Workaholic e Burnout
A síndrome do esgotamento profissional, ou síndrome de burnout, foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em janeiro de 2022 como um fenômeno ocupacional. Ela surge do estresse crônico gerado pelo ambiente de trabalho e pode gerar outros problemas de saúde, como ansiedade, depressão, problemas cardíacos, diabetes, entre muitos outros.
Segundo a International Stress Management Association, 32% da população trabalhadora brasileira sofre com a síndrome de burnout, colocando o país em segundo lugar na lista com maior número de diagnósticos. O Brasil perde apenas para o Japão, que possui 70% da população afetada pela síndrome.
Os profissionais afetados pelo burnout sofrem com três dimensões principais: sentimento de esgotamento ou exaustão de energia, aumento da distância mental do trabalho e redução da eficácia profissional.
A síndrome de burnout pode ser uma das consequências de se tornar workaholic, assim como outros problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Não são elementos intrinsecamente ligados, ou seja, podem existir de formas separadas. Ainda assim, a pessoa afetada por um deles se torna mais suscetível ao outro.
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O que fazer para evitar o esgotamento no trabalho?
O primeiro passo para evitar o esgotamento mental no trabalho é estabelecer limites profissionais claros. Ter horários para iniciar e parar a jornada, sendo que, nas horas de descanso, você não deve verificar ou estar disponível para emails, mensagens e ligações relacionadas ao trabalho.
Além disso, é importante fazer uma boa gestão de tempo e desenvolver técnicas para gerenciar o estresse. No primeiro, é possível utilizar ferramentas como o Pomodoro, matriz de Eisenhower e o time blocking. O segundo pode ser feito com técnicas de meditação, prática de mindfulness, entre outros.
Um elemento fundamental para se manter longe do esgotamento no trabalho é valorizar e investir no autocuidado. Isso significa ter boas noites de sono, refeições equilibradas, praticar exercícios, ter hobbies e interesses pessoais não relacionados ao trabalho e passar tempo de qualidade com familiares e amigos.

É preciso lembrar também da importância do descanso. Muitos confundem o vício em trabalho ou sintomas que ultrapassam os limites profissionais com produtividade, mas essa é uma visão errada. Para conseguir produzir mais e com maior qualidade, é preciso ter tempo para pausas, desconexão total do trabalho e autocuidado.
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Como a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional afeta a saúde?
A queda na produtividade é um dos principais sintomas da falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Além dela, vem a desmotivação, esgotamento mental, problemas físicos e distanciamento da rede de apoio.
Estudos realizados pela OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que profissionais com jornadas com 35 a 40 horas semanais ou mais têm uma probabilidade de 35% maior de ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC), 17% mais chance de morrer por problemas cardíacos e são mais vítimas da hipertensão arterial e elevação da pressão sistólica.
Os workaholics e vítimas da síndrome de burnout ainda tem mais chances de:
10 a 60% mais riscos de desenvolver diabetes
Aumento crônico do hormônio do estresse
Aumento nos níveis de colesterol e índice de massa corporal elevado
Resistência à insulina devido ao estresse crônico
Infecções mais frequentes
Supressão imunológica aumentando suscetibilidade a doenças
Cicatrização mais lenta e recuperação prolongada de doenças
Processos inflamatórios crônicos que danificam órgãos internos
Dificuldade para adormecer e sono não reparador
Transtornos de humor
Cuidar da saúde dos profissionais dentro das empresas é também cuidar dos resultados dos negócios. Afinal, trabalhadores doentes não são capazes de dar o seu melhor, e ser um workaholic pode parecer bom em um primeiro momento, mas na verdade sinaliza um grave problema.
Para evitar esses e outros problemas de saúde, é fundamental investir no autocuidado, limites profissionais e bem-estar. Você tem feito isso por si mesmo e seus colegas?
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E aí, o que achou do artigo? Esperamos ter conseguido esclarecer todas as dúvidas quanto ao que significa ser um workaholic. Nos conte nas redes sociais o que achou! E aproveite para nos seguir, e ficar sempre bem informado.
Até o próximo artigo! 💙